
Embora a economia internacional esteja mergulhada num clima de incerteza, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), não vê motivos para o Banco Central Europeu (BCE) se desviar do caminho de cortes de juros, tendo em conta a baixa inflação e a fraqueza da economia europeia. Na sua perspetiva, há condições para avançar com uma nova descida das taxas de juro diretoras na reunião de política monetária agendada para 17 de abril.
São vários os bancos centrais que se têm mostrado cautelosos perante a incerteza em torno da nova guerra comercial iniciada pelos EUA, optando por manter as taxas inalteradas nas suas últimas reuniões de política monetária realizadas no final de março. Foi o caso da própria Reserva Federal dos EUA e do Banco de Inglaterra, por exemplo. Já o BCE, que se reuniu no início do mês (a 6 de março), voltou a cortar os juros em 25 pontos base.
Agora, também há dúvidas sobre a decisão que o BCE vai tomar na sua próxima reunião agendada para dia 17 de abril: irá interromper os cortes dos juros ou vai continuar? Mário Centeno, também membro do Conselho do BCE, não tem dúvidas quanto a esta questão: “Não vejo nenhuma razão até agora para nos desviarmos do caminho anterior”, disse em entrevista ao Econostream realizada no passado dia 20 de março. E sublinhou que “as previsões mais recentes não nos dizem para fazer uma pausa em abril”, podendo ser precisas novas projeções para avançar com uma pausa.
“A economia está abaixo do seu potencial, pelo que atingir a taxa neutra pode não ser suficiente para manter a inflação em 2%”
“A linha de base [do BCE] incorpora uma trajetória de reduções das taxas de juro que ainda não foi concluída”, refere o governador português, indicando que se “podem esperar mais cortes das taxas” tendo em conta a fragilidade da economia (e não só). “Isso é necessário, devido à inflação mais baixa, dada a fraqueza da economia europeia e o facto de que os desenvolvimentos recentes [guerra comercial] vão enfraquecê-la ainda mais. Uma economia tão fraca não será sustentável com inflação acima de 2%”, explica na mesma entrevista, rejeitando a hipótese da economia europeia entrar em estagflação (fraco crescimento e alta inflação).
Para Mário Centeno, o atual contexto do comércio internacional e das tarifas impostas pelos EUA na Europa e em vários países aumentaram o clima de incerteza e acabam por ter um impacto negativo para a economia e até para a inflação. “Portanto, precisamos abrir as nossas mentes da estratégia base, mas isso não significa que precisamos de nos desviar dessa estratégia [corte dos juros]”, indicou, colocando em cima da mesa que, neste contexto, o BCE poderá ter de ir mais devagar nos cortes dos juros ou até mais rápido.
A estimativa do governador do BdP, dada em dezembro, sobre taxa neutra do BCE em torno de 1,5-2% ainda se mantém. “É importante ter em mente que o conceito de neutralidade supõe que a economia esteja estável, e esse não é o caso. A economia está abaixo do seu potencial, pelo que atingir a taxa neutra pode não ser suficiente para manter a inflação em 2%”, explicou ainda à mesma publicação.
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